Aqui já usei quase todo o meu repertório masoquista e desfiz boa parte das minhas ideias comunistas. Esse espaço é meu, mas desejei compartilhá-lo com o mundo, se você faz parte dele...Então seja muito bem vindo(a)!

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Omar

Eu queria viajar para longe...de preferência para uma praia bem linda e desabitada.
Sentar na areia, com os pés descalços e ler, ler a tarde toda.
Ler Emma que estou rendendo há dias.
Ler a Emma de Jane Austen que está em mim.
Depois deitar com os cabelos assanhados pela brisa fria do mar e deixar-me assim entregue ao vento, ao luar, e ficar pensando baixinho nos livros que me deixaram soltas de mim.
Queria tanto um dia assim, abandonada, completamente abandonada de mim, desamparada do mundo.
E me permitir deleitar do ócio, da areia fina da noite,
Queria.
Ah eu quero acordar com o sol nascendo no tempo e numa noite só minha abrir olhos-ouvidos-sentidos para os pássaros a cantar e eu mesma levantar.
E depois? Depois ir correndo tomar um banho gostoso de mar: eu-o mar-e a vida.


terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Ócio de férias



Queria ficar deitada dando vazão aos meus pensamentos de adolescente em crise, queria férias do adulto chato que mora em mim. Por tempo indeterminado eu queria férias de mim!

Ah eu queria tanto só escrever e esquecer que tenho que ler coisas densas, nebulosamente tensas.
Queria parar o tempo só pra ficar fabulando, reler A macacada, Pinóquio e as historinhas infantis tão vívidas em mim.
Esses dias me lembrei de quando me ensinaram a interpretar textos.
Do que tinha que escrever, de perder o meu querer. Tinha que ser como o professor queria. Ah eu brigava todo dia! Insuportável pra mim seria se engolisse tudo assim.
Tempo difícil de aceitar pra mim, logo eu que viajava em ideias fantásticas sem fim.
É eu tive que me render a isso, por obrigação, por força também, mas nunca me vendi a ponto de dizer o que não senti, só porque eles queriam ouvir.
Eu nasci boa, tentaram me corromper e hoje estou aqui desse jeito assim.

sábado, 4 de dezembro de 2010

101 coisas em 365 dias

1. Ser mais simpática com todos;

2. Postar pelo menos 03 vezes a cada mês no meu blog;

3. Passar um dia inteiro cuidando de uma criança;

4. Fazer todas as três refeições diárias nas horas certas durante o ano;

5. Comer arroz uma vez por semana o ano inteiro;

6. Parar de comer frango empanado por 06 meses;

7. Comprar um mp4 ou ipod de 4G;

8. Não usar a internet aos sábados por 01 mês;

9. Ir dormir no máximo até as onze da noite de domingo a sexta;

10. Me alongar todos os dias na companhia de uma amiga;

11. Fazer um curso de francês;

12. Estudar até as disciplinas mais chatas;

13. Bajular algum professor para conseguir um projeto de pesquisa;

14. Hidratar os cabelos uma vez por semana;

15. Comprar um mural p/ colocar minhas fotos;

16. Comprar uma cômoda com sapateiro;

17. Continuar a terapia;

18. Fazer os exercícios indicados pela fonoaudióloga;

19. Chegar na faculdade até no máximo 08h;

20. Não faltar ao dentista;

21. Ler pelo menos 15 livros nesses 365 dias;

22. Fazer cinema em casa uma vez a cada duas semanas com minhas amigas;

23. Tirar a carteira de habilitação;

24. Me esforçar para manter o relacionamento estável com todos;

25. Sentir o vento na pele;

26. Comprar e cuidar de uma planta;

27. Estudar a lição bíblica toda semana;

28. Ler todos os livros que comprei de Clarice;

29. Ler a coleção completa de Freud;

30. Comprar o livro Psicologia e Religião, de Jung;

31. Comprar e ler no mesmo mês um livro de Kant;

32. Ler o livro A condição Humana de Hannah Arendt e fazer uma resenha sobre;

33. Comprar uma estante pra colocar todos os meus livros;

34. Reler Meu Pé de Laranja Lima;

35. Ser mais tolerante com meus próprios erros;

36. Comprar uma meia calça preta;

37. Perdoar mais;

38. Rir mais;

39. Não afastar as pessoas de mim por mais medíocres que as ache;

40. Usar perfume mais vezes apesar da rinite;

41.

42. Me arriscar mais;

43. Ensinar xadrez a alguém;

44. Escrever sobre minhas mudanças;

45. Retirar minhas máscaras de defesa em troca de algo melhor;

46. Contar minhas histórias de infância no blog;

47. Perdoar os erros do meu pai;

48. Ser mais paciente com minha mãe;

49. Arrumar um estágio voluntário em psicologia;

50. Ouvir mais minha irmã;

51. Não aceitar sentimentos negativos dos outros;

52. Marcar um encontro com grandes amigos nas férias;

53. Praticar alguma atividade física o ano todo (andar de bicicleta nas férias);

54. Superar meus principais medos;

55. Abrir o sábado com um momento de adoração e fechar com uma leitura da palavra e uma oração;

56. Pensar quatro vezes antes de falar alguma verdade pra quem quer que seja;

57. Ler uma peça de Shakespeare e decorar;

58. Ler mais dois livros de Oscar Wilde;

59. Concluir os livros que deixei pela metade;

60. Aproveitar meu aniversário ao máximo;

61. Passar menos tempo na internet;

62. Fazer um check up nas férias;

63. Tomar o remédio pra ansiedade todos os dias;

64. Ir pelo menos a dois grandes congressos de psicologia;

65. Comprar/ganhar um som mp3 c/ entrada USB;

66. Não aceitar ser explorada/não explorar nos trabalhos da faculdade;

67. Continuar escrevendo o artigo científico;

68. Conseguir publicar o artigo numa revista influente;

69. Estudar pelo menos 3 ou 4 horas por dia;

70. Pesquisar sobre mestrados e escolher o meu até o final do ano;

71. Decidir em que área vou fazer o estágio obrigatório;

72. Fazer a inscrição do vestibular da unicap para o curso de letras;

73. Tentar o vestibular para o curso de filosofia na UFPE;

74. Ler o livro O homem, Esse Desconhecido;

75. Assistir três clássicos de Audrey Hepburn;

76. Comprar e ler no mesmo mês o livro As palavras, de Sartre;

77. Ler alguma biografia desconhecida;

78. Ler todos os livros que comprei e ainda não li;

79. Após comprar os livros da lista, não comprar mais durante 05 meses;

80. Assistir todos os filmes de Almodóvar;

81. Freqüentar a igreja todos os sábados;

82. Não esperar nada de ninguém;

83. Influenciar alguém positivamente;

84. Parar de andar de moto táxi desnecessariamente;

85. Me inscrever em algum concurso público;

86. Conhecer pelo menos 3 cidades diferentes durante o ano;

87. Fazer novas amizades;

88. Roubar um beijo de alguém;

89. Não sair correndo após ter roubado o beijo;

90. Doar um livro muito precioso a alguma amiga;

91. Voltar a escrever cartas;

92. Chegar aos 63 kg novamente e mantê-los;

93. Voltar a doar sangue;

94. Ler todos os livros de Jane Austen;

95. Não brigar com ninguém pelo MSN;

96. Participar novamente de algum concurso literário;

97. Tomar banho de chuva e em seguida tomar sorvete e não gripar;

98. Não deixar acumular roupas sujas;

99. Beijar um cara lindo e dizer para todas as minhas amigas;

100. Entrar numa loja de roupas provar tudo o que gostar e sair sem comprar nada;

101. Fazer uma viagem inesquecível para uma praia desconhecida com duas amigas loucas;

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Vita

Estou deitada e num movimento quase inerte permaneço, sim com os olhos fixos na janela que se mostra agora aberta a luz, à luz do mundo.
Além da claridade, capto também o muro alto que se estende por volta de todo o quintal.
O quintal é a minha vida.
O muro?
O muro na verdade é um eufemismo para a muralha, sim a muralha que construí.
Estou fazendo força sabe?!
Fazendo uma força descomunal pra derrubá-las.
Eu consigo, eu sempre consegui o que quis.
Há tempos que não me vejo tão feliz assim, feliz de rir de mim, feliz de chegar a cair, cair de medo, de felicidade, de horror pela vida, e que vida!
Estou com a janela à vista, mas a porta já está destrancada, já vejo o reflexo da luz entrar pela fechadura e sinto, sim eu já sinto a vida novamente olhar pra mim com prazer e dizer: como é bom te rever!

sábado, 20 de novembro de 2010

Passando

Aquele vento frio da noite me acalmava, sabe? Eu podia sentir Deus na brisa forte do mar.
As coisas mudaram, se você não sabe! Agora mesmo estou escrevendo a lápis num caderno usado da faculdade, não meu, mas da minha irmã.
Formaturas se passaram, as crianças já cresceram. Anna já fala português e o inglês?
O inglês se esquecera, como eu, se esquecera também. Hoje nos parecemos mais, e que bom!
Temos infâncias semalhantes: casa dos avós, balanços e aventuras.
No feriado me assustei, minha prima antes caçula, já é "moça". Meu avô já se cansa e minha avó já dorme a tarde.
Os cachorros já estão adultos, Willy de barba branca. Bob com as ocorrências da velhice: faltando alguns dentes. Meu quarto, agora de hóspedes, meu guarda-roupa quase vazio. Minhas amigas de infância com filhos.
É difícil não querer, como é difícil.
Mas mais difícil é querer olhar pra trás e aceitar as condições impostas implicitamente pelas próprias escolhas realizadas a tão pouco tempo assim.
O duro não foi sair de casa, o duro foi resistir e sofregamente perseverar e persistir e não fugir do objetivo que escolhi. Mas sou forte, na minha fraqueza eu sei que sou forte porque quem está comigo é fiel até o fim. Não vou abandonar o que desejei de melhor pra mim, pra elas, pra eles que ficaram e acreditaram no melhor de mim.

Agora


Agora, foi agora que percebi que não podia continuar abandonada assim.
Hoje, ontem.
Ágora entre eu e as multidões de mim.
Agora entre o que escolhi e o que desejo seguir.
Passei, passado. Não quero mais me atrever a olhar para o abismo que atravessei e encontrá-lo chorando de saudade aqui.
Minha memória não morreu ali com todas as coisas que deixei, minha memória está viva, meu coração ainda pulsa e eu quero o presente que optei sim.
Quero a serenidade das grandes mentes, não a solidão dos grandes mestres.
Preciso sentir-me presente na realidade de hoje, de agora, na ágora das multidões de mim.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Ponto

Gosto de ver o mundo pela cortina dos meus cabelos assanhados, de sentar embaixo da sombra de uma grande árvore e de deixar passar as horas assim sem medo.
Sem medo de me sentir inútil depois, sem culpa por achar que o andar dos ponteiros tornou improdutivo o meu dia;
Sem me comprovar a ideia tola de que as poucas horas entregue aos pequenos prazeres da vida, são desperdícios de minha limitada existência aqui.
Não sei o que deu em mim, alguma coisa alguma coisa de estranho parou e ponto.
Alguma coisa que me tirou o sabor da vida. Já nem sei mais pensar, já nem sei nem sei se tive saber. É como se tudo fosse um zero, um enorme e insignificante zero à esquerda de mim.


Alguma coisa grave me fez ficar assim nesse hoje de ontem.
Tenho tanto, tanta...sei lá o quê!
Raiva? Nem sei.
Alguma coisa que nem sei me deixou assim, quase homem, quase imóvel, quase fóssil.
Quero o querer de volta, o meu mergulho diário em mim quero de volta.Minhas profundezas quero de volta, sim sim o meu pertencer quero de volta: quero viver!

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Do pombo

O telefone toca, estou sentada. Sinto-me por deveras cansada, cansada de viver, viver também cansa. As horas passaram rapidamente até agora, agora que começo a escrever. Mastigo os segundos lentamente como quem deseja muito ver a vida. E vejo.

Sentada me recordo da minha chegada aqui. Foi por minhas próprias pernas que consegui, e foi também por mim que caminhei lentamente até aí, foi por caminhar assim que fui tomada por uma visão difícil de se apreender e digerir. Justa hora absurda eu vi, vi um pombo, um transeunte e os meus dois olhos percorrendo o entorno de tudo ali. O animal ferido em frente a uma casa lotérica com pessoas de todos os tipos e caras que nunca conheci.

O que enxerguei mesmo foi um pombo e um homem. Um homem que me compreendeu o olhar e um pombo que estava ferido e lançado a própria sorte diante dos homens, diante da vida.

O pombo estava deitado, relutante por alguma coisa que eu desconhecia, o homem o olhava e como eu compreendia: Eu- o pombo- a vida, ambos cansados de viver, mas sem querer nos render à morte aqui.

O homem?

Era um estranho que me explicou o motivo de seu olhar, disse que não gostava de ver bicho sofrer.

O pombo?

Um animal que tragicamente foi atingido por um ônibus. Sorte a dele, já que eu fui atingida fatalmente por ver a face da miséria, por ter a consciência que a vida às vezes dá, dá do mesmo modo..: rápida e gratuitamente.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Do por que escrevo aqui

“Onde eu me encontro comigo mesma”.

Que profunda declaração recebi ao me perguntar inusitadamente por que precisava manter este blog.

Além deste encontro tão preciso, é nele também que expresso minhas vivências diárias, minhas dores, meus rancores, minhas lutas travadas intempestivamente com a realidade que me cerca. Há por isso quem me critique, me rejeite, me inveje.

Há também quem me ame silenciosamente em gestos, quem me admire com uma nobreza que tenho medo. Sim, medo de por isso mostrar que sou fragilidade, sou sensibilidade. Assim, tenho medo de me revelar por inteiro já que o mistério todo é necessário e acho que perdi, ou nunca tive... não sei, não sei a isso responder.

E me fitar nesse encontro semanalmente, no indizível das palavras malditas e mal escritas aqui, me ajuda a recolher as minhas dores para retalhá-las num texto pequeno de uma hora amarga. Mas também escrevo para minha alegria, para rir docemente das lembranças, e das idiotices indispensáveis à vida.

Escrevo para me falar que eu digo, sim e tenho dito. Não me importam as adaptações, não me importam. Importa o que está implícito nestas silenciosas linhas, nestes pequenos traçados da memória, nestas marcas aqui deixadas.

Se me criticas, então faças melhor, penses melhor, sintas melhor. Não to direi para ser melhor porque isso de fato é impossível. Porque numa coisa somos iguais, e sabemos disso. Iguais na condição humana, mas diferentes na sensibilidade de avaliar a dor de Ser num mundo absurdamente injusto.

Você não sabe o que a injustiça causa no homem, nunca sentiu a injustiça ferir-lhe o coração pois se assim o fosse não seria injusto. Você nunca sofreu por injusta causa; já eu desde cedo por perceber que tudo podia ser diferente se as pessoas agissem honestamente... Então poupe-me de críticas desajustadas da sua deturpada visão de mundo. Poupe-me de comparações alucinadas, de projeções fantasiadas em sua maneira de viver.

Quero apenas ser quem sou e posso, aliás... Como vês eu sou. Sou, sinto e me encontro comigo aqui e não é você quem vai destruir o que quero fazer de mim e se o que escrevo é de fato bom ou ruim.

Vai um conselho: seja você e me deixe ser eu assim!

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Da miséria estudantil

Acordei com o cachorro da miséria lambendo-me a cara velha. Num súbito despertar de quem se assusta com algo, dei-lhe um murro. Não quis feri-lo, mas enquanto durmo já é de se esperar reações por puro impulso instintivo. A vela que estava acesa apagou-se e a escuridão tomou conta do quarto. O impulso que me moveu ali só urge em momentos em que estou dormindo, nos demais pareço homem.

Gostaria de ser somente animal, desprovido de consciência, assim o instinto faria parte de mim em todos os momentos. Desse modo eu poderia esmurrar qualquer idiota que me assustasse no caminho. Para fins didáticos esmurraria os últimos personagens da semana, que me surpreenderam (ainda me iludo por milésimos de segundo tentando negar minha intuição) com um comportamento de merda, completamente adequado a mediocridade local. Tal fato não contribui para que eu perca as nobres esperanças que carrego de um dia mandar todos os imbecis, sem nenhuma exceção, dar um passeio num lugar de onde possivelmente devem ter saído e do qual nunca deveriam ter se ausentado.

Irritada como fiquei nem pude racionalizar direito, nem consegui pensar noutra coisa que não fosse essa tal realização dita acima. Um desejo insano de matar cresce a cada dia, infelizmente existe em mim um SUPEREGO que não fomenta tais aspirações para o então fim último dos meus habilidosos pensamentos de morte.

O cachorro da miséria que me fez acordar num sopapo, foi o mesmo que me fez ir dormir profundamente. O cachorro da delinqüência, o cachorro da imbecilidade humana, aquele que nos permite ir além do que nós mesmos achamos que podemos ir, esse cachorro é o que me desperta nos dias de fúria, mas que eu adoraria que estivesse comigo sempre.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Desvirtude

Ser bom...! "Sou um bom homem". Quem de fato pode se intitular assim? Quantos homens deveras viris existem para assim serem classificados?

Ser homem e ainda carregar a falsa virtude da bondade é demasiadamente inumano para mim. Logo eu que prefiro a impiedade do ímpio ante ao bom do bondoso homem!

"Homem bom". Parece uma piada escutar esse título! Isso me faz lembrar um daqueles longos discursos do louco de Zaratustra. A piada de um é insulto de outros.

Cansei de sensos, de bom senso, de mau senso, de senso comum. Estou deveras indisposta para ouvir títulos medianos, medíocres, de merda.

Quero o fogo, o fogo a consumir os que se vestem por bons homens, os que intitulam imbecilmente assim. Quero a morte das virtudes, das hipócritas virtudes e ver quem vai resistir! Quero ver, se quero...! Ver máscaras de crentes e descrentes a cair.

O querer se transmuta em glória e a minha sei que não posso encontrar se não for assim!

Deixo aqui um pedaço da lembrança: "ó meus irmãos, o homem que sondou até o fundo do coração dos bons e dos justos foi aquele que disse: "são fariseus". Mas não foi compreendido".
(Assim falou Zaratustra - Nietzsche)

Exatamente

Sempre gostei de brincar com as palavras, uma coisa engraçada é que para tudo na minha vida há sempre um sempre e sempre é uma palavra tão forte e tão real pra mim. Além do sempre ocorreu-me agora, num lapso, num devaneio desses que me dá assim sem hora, que também há um oposto trágico que me acompanha. Neste caso, o oposto da adorada brincadeira com as palavras, é o horror que tenho pela matemática.

Horror daqueles monstruosos, dos quais temos mesmo que nos esconder pra sobreviver ao ataque do pior dos inimigos: o medo de ser diminuído por ver sua condição de imperfeito. Oh céus, descobrir que sou um “deus que caga” é terrível! Mas vejamos de onde me surgiu esse terror.

Recordando o início de minha vida acadêmica...tenho péssimas lembranças da atuação de estudante nesta disciplina, isso porque nunca achei a menor graça naqueles quadrados todos, nunca achei o mundo quadrado, losangular ou vi alguma coisa de espacial na minha frente. Na verdade tinha uma enorme dificuldade para imaginar coisas além do espaço palpável. Não tenho visão espacial, nunca tive de fato, talvez por isso tenha tanto desejo de tirar a carteira de habilitação. Quero provar pra mim mesma que isso é apenas um bloqueio, ou sei lá o que se pode nomear sobre isso.

Até consigo me sobressair em situações de extremo risco, em acidentes já consegui a façanha de me enfiar num baú estreito para fugir de uma boa surra. Mas coisas desse gênero eu considero como instinto, algo inato da minha condição de sobre-humana. Lembro-me certa vez já perto de concluir o ensino médio, no segundo ano se me recordo bem, que passei de uma hora para outra a gostar de trigonometria, isso porque o professor era absurdamente rápido e sua agilidade me deixava feliz, a tal ponto que fui enfeitiçada por ele e acabei por me “apaixonar” temporariamente pela então disciplina odiada.

O fato é que foi marcante para mim, nunca fiz a menor questão de estudar matemática até porque achava que somar, subtrair, multiplicar e dividir eram basicamente tudo que deveríamos aprender da matemática enquanto seres humanos, as demais contas eram esdrúxulas, desnecessárias e deveras cansativas para nós míseros estudantes indecisos da vida. Quando então percebi essa nova paixão, por triste coincidência percebi-me também ao lado daqueles seres que sempre intitulei de bizarros por amarem tal ciência. Um desses seres permanece no meu vínculo de amizades até os dias de hoje e se encaminhou pobre coitada, no mundo das disciplinas exatas.

Toda a exatidão que tive se resumiu aquela fase, aquela estranha fase em que eu copiava freneticamente todo o conteúdo da lousa, fato inédito até então. Uma daquelas alunas chatas que se sentam na frente e soltam piadas o tempo inteiro de assuntos pertinentes as palavras, que fazem trocadilhos do além-aula, aquelas piadinhas que só quem ri além da comediante, são os professores e os idiotas dos amigos que não querem estragar a amizade. Uma daquelas alunas que ninguém discute literatura sem ser no mínimo indiciado a ler uma enxurrada de livros; uma daquelas alunas que defendem Machado de Assis à Eça de Queiroz a ponto de sair nos tapas; uma daquelas insuportáveis alunas que admitem não saber viver sem escrever ao menos um texto sensacional, não sabem respirar direito sem ler algo que lhes tire o sono, a própria respiração ou mesmo sua alma.

Sim, eu fui essa aluna. Eu nunca gostei de matemática e declaro aqui para todos abertamente que a única fase em que tudo foi exato foi aquela em que fiquei perplexa porque descobri que além de uma semianalfabeta matemática eu não sabia como tinha passado por média em todos aqueles anos escolares, aí então percebi o quanto a matemática é reducionista...e foi aí que encontrei a filosofia, e claro...a física quântica para me enlouquecer afirmando que 2+2 não são 4!

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Eis tudo

Ela havia ficado muda e pela primeira vez desfrutara plenamente da voz agora impelida por seu mutismo. Estava satisfeita pois encontrou casualmente seres que pensavam e que como ela também haviam perdido.

Perdido o norte e o sul. A bússola que os orientava pelo tenebroso caminho quebrara na guerra e foram vencidos pelo som inaudível das palavras torpes daqueles a quem é devido o atual e desprezível pós-guerra.

Ofereceram-nos a insensatez em troca dos nossos gestos sinceros. Agora cá estamos tentando sobreviver, em vão? Não sei, mas nossas vidas coincidiram no mundo e temos o dever de lutar por nós, de perdoar por nós para que o fim não nos afogue no meio. Morrer numa maré de grandes peixes mas de águas sujas não é brilhante, quero uma morte feliz, suave e que acima de tudo nos permita falar.

Mas convido-nos provocativamente a pensar no tempo. Até quando estaremos assim? Não há respostas exatas, não lidamos com lógicas, nossa matemática é transcendental.

Tudo o que posso afirmar por mim é que quero estar com vocês até o fim, sim vocês que me fizeram achar o que eu havia perdido de melhor em mim. A vocês chamo de amigos e devo sim, o meu sincero obrigada.

E quero muito de volta as nossas esperanças.

Somos iguais, somos tão diferentes, somos humanos, somos eu, vocês e nós. Nós somos, e esse plural me alivia porque sei que seremos sempre melhores lado a lado e que apesar de tanta criticidade, bem sei que vocês são assim comigo, consigo, conosco mesmo, estamos desinstalados, não alienados.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Para a alma

Ouço música, uma daquelas que te fazem suspirar e tremer.

Ouço-a com paixão.

É a minha vida tocada em vários acordes, são partes de um solo de piano mesclados com o belíssimo de um cello e por ora com toques de harpa.

Não a sei expressar tão bem quanto a ouço, talvez em morte ela consiga a si própria dizer.

Desejo todos os dias não somente ouvi-la, mas escutá-la com minhas entranhas a vibrar por tudo que já fui e pelo humano que desejo alcançar.

Tudo parece tão longe e ao mesmo tempo tão perto.

Jamais achei que sentiria a graça, a glória dessa vida, mas achei em vão. Posso senti-la e apesar de serem por momentos tão breves, sinto-a com uma volúpia ardente e inexprimível de tão doce e dolorida. Outrora li que doar-se demais dói, mas e não doar-se?

Deve ser insuportável assim como ouvir uma música e não senti-la.
Insustentável é depois de tudo escutar nada se tornar diferente.

Diferença diferença eu quero a diferença! Deixo a indiferença para os mortos, estou viva e minha música, os instrumentos que venero, sim esses eu preciso, preciso ouvi-los, quero vê-los sempre tocar: Tocar ora a minha própria alma, ora a dos outros.

Deixem-me ir, a música toca e o tempo não pára!

Fraternal

Tenho uma alma muito vívida e frenética e voraz e sedenta pelo desconhecido. Um espírito incansável que não quer parar nunca, mas que pára. Pára e eu sei quando e como.

E me assusto diante das fragilidades tão humanamente minhas!

Esses dias quase entrei em êxtase lendo-me em um livro e quase pra mim é sempre tão irritante. É uma coisa que me aborrece esse limite presente. Queria a loucura que precisa se manter sã neste silêncio ilógico agora.


Queria ser alcançada pelos meus gestos mas tudo o que vejo ao meu redor são sons, vejo sons não mais os ouço, e pior, nem os sinto. Vejo! Sim e tenho raiva de perceber isso.
Angústias que me surgem por não conseguir ouvir meu próprio grito.

Minha alma perdeu a voz, e a força de querer compreender também.

Deixei ir a razão da loucura que me sustentava, deixei ir. E agora? Agora tudo o que tenho é um amigo e o espaço vazio entre nós dois. Milhões de partículas que nos formam e sobretudo que nos unem em compreensão. Mas tenho medo! Medo surreal de perder a única coisa que me faz acreditar no sentido dessa vida aqui. E se...?
Nem sou pessimista, mas o "e se" bloqueia a minha criatividade e me recluso.

Nem quero tentar sair desse escafandro que escolhi. Inevitavelmente continuo achando tudo a soma de todas as partes uma grande merda. E não peço o perdão da palavra, este espaço é meu e falo para o mundo os pensamentos que me vierem à tona.

O mundo, um mundo, de gente cretina, perversa e inútil que me obriga a enxergar o que não quero: tudo só tende a piorar!
Ó Deus não nos deixe cair em tentação, nos livra das armas, da violência e dos cretinos, amém!

Ps. o que existe entre nós dois é um milagre e depois que somos agraciados com um, não nos conformamos com míseras esmolas de coleguismos. Se você sair da minha vida, te mato!
Recado dado: "Quem avisa amigo é".

Um grato

Estava terminantemente sentado a observar os transeuntes que iam e vinham num ritmo tranquilo, mas incessante.

Foi rápido o momento que passou de observador a observado, e aproveitando-se da situação ousou receber carinho, mas numa tentativa frustrada esquivou-se, afinal: era um gato não um homem.

Como tal percebia seu lugar na ordem das coisas e permanecia com o olhar de abandono, de bicho que não se importava mais.

Indiferente a todos, dispersava sua atenção vez por outra nalgum passo mais apressado que podia pisar-lhe afinal: era um gato não um velho homem.

Um velho já bem decrépito estava à espera da sua vez, da hora em que haveria de entrar no transporte que o levaria de volta à sua terra, tão precisa hora em que o gato chamou-lhe a atenção. Foi fatal para a existência persistir em meio ao caos de indigentes ali: ele era um gato mas o velho era humano e o levou para uma cidade bem distante dali.

Um lugar

Fui a primeira a entrar no ônibus, não porque desejava o primeiro lugar mas porque a ansiedade me tomava e precisava descansar.

Quero um sentido e não, não estão certas as coisas aqui.

Não me orgulho do que sou hoje, nem poderia pois sei que posso mais.

Estou acolá e construindo meu espaço mas ainda não sei a medida. Não tenho tempo a perder e tenho todo tempo do mundo. Preciso descansar, já não há mais nada a se pensar.

Quero as ações, mas elas fogem de mim.

Estou inerte, sem ler, sem ouvir, apenas vejo e me assusto porque nem lágrimas nem prantos, nem risos nem desesperos, nada.

Já não há mais o que fazer para afastar essa indiferença que quer me consumir.

Unheimliche

Queria falar para.

Dizer da minha dor, talvez essa angústia que me consome ousasse me abandonar.

Mas não posso, na verdade não consigo. Sinto por mim, sempre acho que está perto o meu fim. Penso que ou eu a sucumbo ou serei sucumbido por.

Se angústia tivesse cor, a minha seria escarlate sobretudo porque é vida e vida é sangue e alma e existência e, a minha, a minha não tem feito o menor sentido aqui.

Que se salve quem puder ser!

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Álbum de festas

Vejo fotografias, nela encontro crianças sorrindo e uma delas revela a ausência dos pequenos incisivos de leite; essa sou eu. Nas festas de aniversário o que eu mais gostava na hora dos parabéns era quando o aniversariante tradicionalmente tinha porque tinha que enfiar o dedo no bolo! Hahaha. E como tudo aquilo me divertia!

Também gostava de dançar, me requebrava por inteiro e magricela que sempre fui, parecia um esqueleto dançante. Lembro-me que ficava feliz ao menor resquício de aniversário, achava a data mais importante...fosse de quem fosse a festa, isso antes! Antes das alergias se intensificarem e acabarem com minha vontade sedenta por festas.

Os finais de semana repletos de opções se tornaram tristes toda vez que me lembrava das minhas novas impossibilidades, das reações sempre assustadoras das quais temia cada dia com mais pânico.

Um pedaço de torta de morango podia se mostrar tão repulsivo como uma ida ao hospital com direito a muitas agulhas. Balões de festa se misturavam com balões de oxigênio que me faziam pensar duas vezes antes; difícil foi aquela época.

Mas dos preparativos eu podia participar e lembro como eram recheados de ansiedade e alegria! Com quantos primos eu iria brincar num só dia? Quantas amigas viriam a minha casa!

E depois?

Depois viria o cansaço todo, a saudade na hora da despedida e de novo eu solitária com minhas bonecas. Voltava para o apartamento, para minhas cabanas de lençol montadas na janela do meu quarto, para os meus diálogos mentais tão incompreensíveis, para os meus choros em seguida e para um mundo tão inexplicável para mim, logo eu que sempre achei tudo um grande aniversário...aí paro, vejo as fotos e me vem à tona a felicidade dos dias em que a minha vida foi um álbum de festas, e que álbum!


domingo, 11 de julho de 2010

Sem riso


Ele nunca teve um lar, como pode ter sido abandonado?
Esquecido por alguém?
Não, ele nunca foi registrado pra poder ser esquecido.

Quem é ele?

Nem ele mesmo sabe, porque já desistiu de pensar...hoje ele se embebeda no cheiro enauseante da cola de sapateiro enquanto você come, dorme, trabalha e ainda reclama quando não lembram de você.

Algum dia você já parou pra pensar se fosse um menino como esse? Relegado socialmente em todos os aspectos possíveis...?

Consegue sentir um pouco o marasmo em que ele está imerso e ainda xingá-lo de ladrão, e despejar em cima do governo uma responsabilidade que também é sua?

Se eu consegui promover uma reflexão válida, então realizei o meu intento.



quarta-feira, 30 de junho de 2010

Lua Adversa

















Tenho fases, como a lua
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha

Fases que vão e que vêm,
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.

E roda a melancolia
seu interminável fuso!
Não me encontro com ninguém
(tenho fases, como a lua...)
No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua...
E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu...



(Cecília Meireles)

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Idas e vindas

Minha primeira ida obviamente não me recordo, foi à escola; e mãe como adora esse tipo de coisa conta como foi talentosa minha reação, que para surpresa de todos afinal sou a caçula (auto explicativo), não chorei, não tive medo.

Foi preciso apenas que ela explicasse e eu espertinha que era, com meus 1 ano e 7 meses olhei pra trás e dei um tchauzinho pra ela, abandonando-a completamente ali na sua angústia de mãe superprotetora.

A propósito ela sempre conta tal história citando como exemplo o desespero de minha irmã que ao vivenciar a mesma coisa se descabelou, esperneou e deu bastante trabalho pra se calar e se adaptar a nova fase então como estudante.

Era sempre chorosa e aos berros que a pobre coitada tinha de ser deixada à porta da escola. Enquanto eu ia feliz e saltitante, vai ver porque dormia a maior parte do tempo tendo como resultado a reprovação no mesmo ano, é...reprovei o maternal. E pensar que sempre fui uma boa aluna! Hahaha.

Hoje fico a pensar o por que de reações tão distintas (psicologia não se limita aos outros) e não encontro uma resposta que me seja suficientemente boa, ou se a encontro não quero aqui dizê-la. Mas não me aterei a isto no momento...deixarei para uma próxima postagem.

Lembrei-me agora de minha segunda ida quando meu pai resolveu por si (livre e espontânea pressão) deixar nossa casa. Uma parte de mim e delas, foi com ele. A terceira ida simplesmente não aconteceu, não tive terceira ida, pulei direto para a quarta...tive rubéola.

A quarta ida foi minha segunda cirurgia (a 1ª não recordo, era apenas um bebê). O milk shake, os mimos e as manhas todas, as primeiras grandes saudades foram sentidas aí. A quinta, bem... acho que se eu pudesse escolher uma como a melhor, seria esta. Aconteceu quando nos mudamos para morar com a maior pessoa já vista: minha avó.

E foi mágico aquilo tudo! Recordo-me plenamente do sentimento, do dia (numa quarta-feira, 15/01/1997 meu aniversário) exatos 9 anos. Da alegria exasperada que fez meu coração tremular-me toda. Dos móveis sendo transportados, do caminhão baú e voinho, da geladeira que deu trabalho para ser levada, das minhas coisas encaixotadas, de mim mesma que nem quis olhar para trás.

De um apartamento com 3 quartos para uma casa com sótão, colchões de mola, balanço e muito espaço. Vou parando por aqui, isso tudo me trouxe uma nostalgia danada e fiquei às avessas. Continuarei a escrever, prometo! Mas agora é hora de mais uma ida, adeus! ;*


domingo, 20 de junho de 2010

Clairvoyance

Achei que não sentia mais, que não era mais, não existia mais. Deixei-me levar apaticamente por tantos dias que pensei nunca ter sido.
Quando fui surpreendida já nem queria, o sofrimento tinha matado meus desejos.
Resisti inutilmente por um tempo que não sei, e me entristeci porque ouvi a minha alma gritar de medo quando soube do limitado tempo.
Ouvi e vi que esperava, lá no fundo eu ansiava por salvação e chorei pelo que ainda restava de mim e fui então escrever. Escrever o que sentia, cada palavra com sangue, com lágrima, com dor, com medo, sim com muito medo de ser boba, de retornar por completo ao que sempre fui.

E me percebi humana novamente e chorei, chorei muito porque tudo foi tudo foi em 3 meses, bem depressa aqui, e hoje tive que dar tchau sem nem conseguir.
Tive raiva, ciúme, mágoa. De mim, dela. Dela que depois de destruir minha máscara, vai embora assim!
Droga de ciclo, eu gosto é do interminável!
Por que? Porque sou mesmo assim: Tudo ou nada, detesto meio termo.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Bettahs


Criavam peixes. Não porque gostassem, mas porque era o único animal permitido pela avó e dona do lar. A alergia que o simples cheiro de todos os demais bichos causavam se tornava grave a cada crise.
Por um tempo relativamente longo se interessaram por aqueles pobres animais enclausurados de forma tão impiedosa. Iam pescar suas vítimas numa lagoa pertinho de casa fazendo uso dos melhores materiais de pesca que uma criança poderia imaginar: peneiras e escorredores de macarrão!
Foram tricongates, muitos por sinal. Guarus, piabas e quando já tinham se tornado doutores na criação começaram a comprar bettas. E foi um período estimulador, passavam boa parte do dia vigiando os bichanos. Até que um dia, um peixe, justamente o meu peixe, tentou suicídio para não ser comido por um gato. Lançando-se do aquário a quase um metro e meio do chão ficou se debatendo ao que eu rapidamente o socorri.
A culpa tinha sido da gata do meu avô cujo nome recordo-me bem: Caduquinha, que de caduca para matar nada tinha. E descrevendo isso dou risada ao lembrar do meu desespero infantil e da raiva que tive quando descobri que nada dura para sempre, nem mesmo os peixes!
Quase aos prantos minha alma estava, numa aflição danada e na hora não pensei em outra coisa...Lá fui eu com meu peixinho (uma betta leitão) na mão, ela tentando sofregamente sobreviver enquanto eu a afogava em lágrimas e súplicas. É usei toda a minha fé ali, vai ver por isso as montanhas mais tarde nunca se moveriam.
Com veemência pedi a Deus que salvasse aquele meu objeto de amor. E ela coitadinha, já sem fôlego foi posta na água logo após o término do pedido. Embora todos os adultos da casa terem insanamente gargalhado da situação, e de terem feitos críticas fundamentadas em não sei o quê, o meu peixinho não morreu naquele dia, na verdade veio a óbito meses depois após uma cria. Isso é o que dá querer milagre duas vezes!

sábado, 29 de maio de 2010

Absurdo

Com olhos mortais vejo o absurdo,

sinto,

sou.

E com estes olhos facilmente choro, com qualquer coisa que consiga me fazer transcender o óbvio, sim eu choro.

E vejo além, e vou deixando descer uma lágrima assim devagarzinho com medo de estragar a beleza que se mostra através dessas janelas tão imperfeitas.

Estes olhos que me fazem enxergar a beleza e o absurdo, sim estes olhos são meus, são do mundo, são de minha humanidade, são da vida.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Morrer

Matam-me todos os dias com palavras estúpidas, olhares indiferentes, gestos desumanos.

Morro sempre, a cada confronto com as minhas feridas.

Mato-me na tristeza por querer ser o que não posso.

Quero o super homem Nietzscheano!

Morrer, eis uma condição da minha humanidade que abomino.

Detesto a morte diária estampada e sangrenta, a morte insensível, a insolente morte que não poupa nem as crianças.